Enquadramento Histórico
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A tradição do trabalho do couro é já antiga em Guimarães. Encontramos notícias de que esta atividade aqui se desenvolvia desde a Idade Média, fora das antigas muralhas e junto ao pequeno rio que atravessa a cidade, numa zona outrora conhecida por ser o “Burgo de Couros”, e onde atualmente ainda persistem vestígios visíveis da arte de trabalhar as peles.
Ao longo de séculos, as matérias-primas desta indústria foram os couros do gado bovino, abatido na região. Depois, aparecem as peles oriundas do Brasil e de outras províncias ultramarinas como Angola e Moçambique.
Foi sobretudo no séc. XIX e na primeira metade do séc. XX que o dinamismo económico dos curtumes se intensificou, associado aos conflitos bélicos que assolaram a Europa.
Com o desenvolvimento da organização produtiva, a indústria de curtumes exigiu avultados capitais financeiros para a aquisição de matérias-primas e para a crescente modernização do processo produtivo.
O negócio era rentável e despertava o interesse e o investimento de pessoas oriundas de todas as classes sociais, tendo-se tornado na época, numa atividade que muito contribuiu para a projeção económica de Guimarães, bem como para o desenvolvimento de outras atividades, como a indústria do calçado.
A partir da década de 60 do séc. XX, e acompanhando a evolução da conjuntura económica internacional, esta indústria entrou em declínio. A insalubridade que envolvia os processos produtivos e o atraso tecnológico, originou a transferência dos investimentos para a indústria têxtil, levando ao desaparecimento progressivo desta atividade. Apesar deste contexto, a última fábrica deste conjunto industrial só cessou atividade em 2005.
O antigo «Burgo de Couros» era a zona mais insalubre de Guimarães. Os curtidores e surradores eram as categorias profissionais ligadas a essa desaparecida manufatura da curtimenta, que nos legou um espaço onde é possível vislumbrar as condições de trabalho num primitivo parque industrial.
Noutros tempos as pesadas fazendas - assim eram denominados os couros - eram submetidas a complexos e demorados processos de transformação. Contando com condições de trabalho muito precárias e estando em permanente contacto com a água, homens de forte compleição física revolviam as peles, mergulhadas em estruturas de granito semelhantes a tanques rasos ao chão.
Os “curtidores” eliminavam os pelos e as gorduras, com o auxílio de ferrelhas, preparando as fazendas para durante meses receberem a curtimenta propriamente dita.
As cascas de carvalho, retiradas das árvores que abundam nas serras altas de Fafe (cidade vizinha), ofereciam o tanino para esta operação, que era orientada pelo saber transmitido de geração em geração.
Descalços, ao sol ou à chuva, os curtidores tinham um trabalho árduo, sujo e malcheiroso. A sua experiência e sabedoria eram, no entanto, fundamentais para o conhecimento das implicações das condições climatéricas na temperatura das águas onde repousavam as peles, em banhos tanantes.
Seguia-se o enxugo, muitas vezes ao ar livre, ocupando as bermas da via pública.
Cabia aos surradores o processo de acabamento, antes dos couros serem colocados a secar em arejados barracões de madeira, construídos sobre oficinas ou paredes-meias com as modestas habitações operárias, ou até nos quintais dos edifícios burgueses.