Lugares Imperdíveis
Passos de História: Da Colina Sagrada ao Coração de Guimarães
Comece a sua visita no ponto mais emblemático de Guimarães: a Colina Sagrada, onde a história da nacionalidade portuguesa se respira a cada passo. Ao chegar, é recebido pela Estátua de D. Afonso Henriques, em bronze sobre granito, o primeiro Rei de Portugal, espada e escudo em punho, olhando-o com determinação. Como se convidasse cada visitante a seguir-lhe os passos rumo à fundação da nação. Aproveite e tire a fotografia neste local emblemático.
Erga o olhar e deixe-se impressionar pelo Castelo de Guimarães, sentinela erguida no século X pela Condessa Mumadona Dias. Palco da lendária Batalha de São Mamede (1128), parece ainda ecoar o clangor das espadas e os gritos da vitória que marcaram o nascimento de Portugal.
A poucos passos, a singela Igreja de São Miguel convida à reflexão. Diz a tradição que aqui foi batizado D. Afonso Henriques. Toque na pia batismal e imagine a água a cair lentamente, enquanto observa os túmulos dos guerreiros que moldaram o destino do reino.
Descendo pelos jardins, ergue-se o majestoso Paço dos Duques de Bragança, as suas 39 chaminés e a imponência do edifício convidam à contemplação. Construído no século XV, guarda coleções de artes decorativas, mobiliário e as réplicas das célebres Tapeçarias de Pastrana, que narram as conquistas portuguesas em terras de África.
No caminho, o Convento de Santo António dos Capuchos surge como refúgio de silêncio. Apenas o canto dos pássaros ousa interromper a calma dos claustros, pátios e sacristias do século XVIII, que o convidam a um instante de pausa.
Descendo do Paço, repare na corrente de casas apalaçadas. Entre elas, destaca-se a residência do arqueólogo Francisco Martins Sarmento, no Largo que hoje leva o seu nomee imagine-o a descobrir segredos das citânias e castros, como a Citânia de Briteiros. No centro, observe o jardim florido que acolhe camélias que iluminam os dias de inverno. Ao lado, a Igreja e Convento de Nossa Senhora do Carmo deslumbra com o barroco da talha dourada e dos frescos no teto e convida a uma visita.
Percorrer a pé o Centro Histórico repleto de ruas e vielas é sinónimo de imergir na história a cada recanto. Exemplo disso mesmo é a Rua de Santa Maria, de origem medieval, e uma das mais antigas ruas de Guimarães, a qual teve um papel de relevo, pelo facto do seu traçado ter servido como via de comunicação entre a Vila Alta do Castelo e a Vila Baixa do Mosteiro.
Esta rua possui alguns edifícios de destaque, como é exemplo, o antigo Convento de Santa Clara (atual edifício da Câmara Municipal), um dos mais ricos conventos de Guimarães. Foi neste convento que as hábeis freiras clarissas se dedicavam à confeção dos doces conventuais de Guimarães: o Toucinho do Céu e as Tortas de Guimarães, ao mesmo tempo que juravam distância das tentações terrenas para melhor servirem a Deus. Continuando a rua, vemos a Casa do Arco, uma das casas mais fotografadas, cujo início de construção remonta aos finais do século XIII. Nela viveram várias famílias ilustres e por lá passaram vários personagens, como o rei D. Manuel I e o príncipe D. Miguel e o pintor Auguste Roquemont.
Virando a esquina, entre na Praça de S. Tiago. Segundo a tradição, uma imagem da Virgem Santa Maria foi trazida para Guimarães pelo apóstolo S. Tiago, e colocada num templo pagão num largo que passou a chamar-se Praça de S. Tiago. Mais abaixo, encontra-se também demarcado o local, onde terá existido uma capela dedicada ao apóstolo S.Tiago, a qual integrava o percurso do “Caminho de Santiago de Compostela” e que foi demolida no séc. XIX. No piso da Praça pode ler-se a frase em latim extraída da Carta de Foral do Conde D. Henrique (1096), e que quer dizer: “A vós homens que viestes povoar Guimarães e àqueles que aqui quiserem habitar”.
No vizinho Largo da Oliveira, outrora Praça Maior, ergue-se a Igreja de Nossa Senhora da Oliveira e o Padrão do Salado, alpendre gótico comemorativo de vitórias portuguesas. Logo ali ao lado, vemos a árvore que se identifica com o nome do Largo – uma Oliveira. Conta a lenda que neste Largo, no séc. XIV, existia uma oliveira trazida de S. Torcato (uma vila nas proximidades). A oliveira, entretanto, terá secado até que em 1342, foi colocada junto a ela uma cruz (a mesma que se encontra agora no centro do Padrão do Salado). Três dias depois, a oliveira reverdece, com novos rebentos. Os habitantes de Guimarães atribuíram esse facto a um milagre e desde então, passou a ser chamada de Nossa Senhora da Oliveira.
No lado norte do Largo, fica localizado o edifício dos Antigos Paços do Concelho, antiga Câmara. No topo exterior da fachada, como que a vigiar o Largo, vemos uma estátua com duas caras. Este personagem, que dizem simbolizar o vimaranense, é muitas vezes associada aos habitantes de Guimarães como gente de "duas caras", ou seja, desonestos, mas na realidade simboliza coragem e dever cumprido pelos vimaranenses nas conquistas do norte de Africa.
A poucos passos, o Museu de Alberto Sampaio guarda tesouros de ourivesaria e escultura bem como, peças icónicas ligadas à história de portugal: o loudel (veste militar) que D. João I envergou durante a batalha de Aljubarrota e o Tríptico da Natividade em prata dourada que ele ofereceu a Nossa Senhora da Oliveira, como agradecimento pela vitória alcançada.
Para contemplar a cidade de outra perspetiva, percorra o Adarve da Muralha. Suba pelas escadas, passe pelas ameias e observe do alto o Paço dos Duques, a Igreja de São Miguel, o Castelo e, ao longe, a Montanha da Penha. Sinta a cidade a seus pés e imagine a vigilância constante de antigos guardiões.
Daqui, o percurso conduz à Torre da Alfândega, plena de simbolismo para Portugal e para os Vimaranenses, e onde se pode ler “Aqui Nasceu Portugal”. Entre e suba até ao topo, garantimos que não se arrependerá. Dali, rume ao Largo do Toural, sala de visitas da cidade. As referências mais antigas deste Largo remontam ao séc. XVII, altura em que aqui se realizavam feiras de gado e por isso foi batizada com este nome. Aqui, admire o chafariz renascentista, o pavimento que representa o Centro Histórico e o varandim dourado de Ana Jotta, decorado com cadeados simbolizando amor e união. No lado poente, a Basílica de S. Pedro revela-se simples na arquitetura, mas carregada de história. Sabia que o sino assinala todos os quartos de hora com toque?
Se desejar uma pausa mais tranquila, suba em direção à estação de comboios e descubra os jardins em socalcos do Palácio Vila Flor, onde camélias, chafarizes e esculturas convivem com espaços de eventos e arte ao ar livre.
Pela Alameda de São Dâmaso, o jardim central com coreto e esculturas revela o monumento a Gil Vicente, pai do teatro português. Este espaço transforma-se com as estações, entre sombras frescas de verão e raios de sol no inverno.
Antes de concluir, visite o Convento e Igreja de São Francisco, igreja ao gosto barroco, com um dos mais notáveis retábulos de talha dourada joanina (época barroca) de Guimarães, conjugado com os admiráveis painéis de azulejos, evocando a vida e os milagres de Santo António. A sacristia, com teto pintado e espólio sacro, é um tesouro a descobrir.
O passeio termina no Campo da Feira, outrora um dos maiores mercados do reino, onde se vendiam aves, tecidos, cereais e gado. Hoje, um belo jardim central de buchos e flores, que se estende até à igreja, vai mudando de cor ao longo das estações do ano, sempre com flores sazonais. Ao fundo, ergue-se a imponente Igreja de Nossa Senhora da Consolação e Santos Passos, onde anualmente sai a procissão dos Santos Passos, na altura da quaresma (antecede a Páscoa). Esta igreja é conhecida localmente por “Igreja de S. Gualter” e está intimamente ligada às Festas da Cidade - Gualterianas, que se realizam anualmente, no primeiro domingo de agosto.
Aqui, entre história e devoção, Guimarães revela-se inteira: a cidade que viu nascer Portugal.