Património Mundial
- Início
- Descobrir Guimarães
- Centro Urbano
- Património Mundial
A classificação do Centro Histórico de Guimarães assenta em 2 itens, que estão publicados por completo no site do município:
A origem da nacionalidade
O modo como foi recuperado o Centro Histórico
Assim sendo, o que atrai e torna único o Centro Histórico de Guimarães é a vivência de um lugar que se atualizou, respeitando a essência da vivência deste espaço com o Tempo que por ele passou. Aqui o todo é mais do que a soma das partes.
Cidades há em que o peso dos monumentos é determinante para a classificação da UNESCO.
Aqui em Guimarães, os conjuntos da chamada “arquitetura singela” e o restauro de elementos de detalhe, fazem o todo uma forma coerente e, sobretudo, capaz de não introduzir ruturas na vida quotidiana de uma população que vai permanecendo neste lugar e que eleva esta cidade a um lugar único.
Visitar o Centro Histórico de Guimarães exige tempo e disponibilidade para aí permanecer e fruir momentos em que a cidade se oferece, deixando dentro de nós o ambiente que nunca tínhamos pensado viver.
Sentados numa esplanada sem relógio, nem guia turístico a comandar-nos, podemos esquecer quase tudo que vai por esse Mundo e ficarmos com o olhar pousado num conjunto de fachadas, apreciando o cuidado e a qualidade da recuperação destas arquiteturas, bem como o cuidado posto no modo de cuidar dos vasos que enfeitam algumas varandas, alguma roupa a secar, que indicia o dia-a-dia de quem habita. Saudar a senhora que da sua janela deixa correr o tempo, agora animada e distraída pela vivência diversificada pelos visitantes internos e/ou externos, bem como pelos vimaranenses, que dedicam um pouco do seu tempo a usufruir do seu Centro Histórico que tanto amam. Referência simbólica e significante de uma região, que apesar de ter/ser áreas patrimoniais (construídas e ambientais), se sente completa quando regressa ao centro.
A malha urbana do Centro Histórico permite uma descoberta permanente, de pequenas ruas e ruelas que levam às praças, largos e pequenos espaços de encontro.
Quão agradável é entrar na antiga padaria agora atualizada e higienizada, mas aonde ainda se encontram elementos da sua origem, e comprar um pouco de broa, um pão com queijo e ir comendo rua fora ou até sentada num banco da Feira do Pão, enquanto se sacodem as migalhas que os pássaros esperam comer. E então escuto melhor o chilrear dos pássaros, que as frondosas árvores abrigam. Apreciarmos o vaivém do barbeiro, onde os clientes habituais muitas vezes se juntam para conversar. Ao olhar a fachada dum edifício de arquitetura contemporânea vejo um pano de muralha da cidade no seu interior.
Ao aperceber-me que estou no limite da área classificada pela UNESCO, compreendo que entro na sua área de proteção ao classificado e desperta-me a atenção umas construções graníticas que não consigo identificar. Não resisto e vou até lá.
Vejo-me envolvida numa miríade de tanques graníticos, de antigas fábricas de madeira, agora reconstruídas e reconvertidas em diversos equipamentos coletivos e então leio que me encontro na antiga “Zona de Couros”, cuja especificidade morfológica é, em si só, duma qualidade fascinante. Fico deslumbrada em silêncio enquanto escuto o som dos veios de água que ainda existem e que eram a base do funcionamento da produção do tratamento de peles, que aqui se instalou nas margens do rio de Couros.
Lembra-me a ida a Fez, em Marrocos, e que a extensão da área de tanques é muito semelhante. Fico maravilhada!!
Paro e apercebo-me que assumi o discurso inicial deste texto e passei a falar na primeira pessoa. Eu agora interiorizei vivências deste lugar e eu agora já sou diferente do que era quando aqui cheguei, sou também já deste lugar e ele fará parte de mim do mesmo modo que ele se me abriu, permitindo-me ser parte integrante daqui.
Vou voltar com o tempo necessário de vivenciar este fragmento de cidade, parte integrante dum território que merece.
Guimarães merece um regresso!
Alexandra Gesta (arqta.)